Atraso na descoberta da doença reduz as chances de cura
A médica oncologista Luci Ishii afirmou nesta sexta-feira (23) à Câmara dos Deputados, durante debate virtual promovido pela Secretaria da Mulher, que a pandemia de Covid-19 comprometeu a principal estratégica adotada pelo País contra o câncer de mama: o diagnóstico precoce.
“Neste período de pandemia, muitas mulheres notaram alterações em suas mamas em casa, mas não procuraram o serviço médico”, comentou. “Há casos de pacientes que perceberam nódulos em janeiro e só agora procuraram ajuda médica.”
Segundo a oncologista, o medo de contrair o novo coronavírus se somou a outros que já acompanham boa parte das mulheres quando o assunto é câncer. “O receio do diagnóstico, de achar algum tumor. Ora, se uma doença existe, não é não procurar que vai ajudar a paciente”, advertiu.
Atraso no diagnóstico
O atraso no diagnóstico, segundo a especialista, fez com que mais de 60% dos casos confirmados de câncer de mama no Sistema Único de Saude (SUS) já estejam em estágio avançado, quando a chance de cura é menor.
Também oncologista, Ludmila Thommen destacou que, no período da pandemia, 62% das mulheres deixaram de fazer os exames de rotina. “Diante de qualquer sintoma, não devemos esperar para buscar um diagnóstico”, alertou.
A senadora Leila Barros (PSB-DF), que mediou o painel sobre a saúde mental da mulher com câncer durante a pandemia, lembrou que o câncer de mama é o que mais mata brasileiras depois dos tumores de pele. “Além de ser mulher e de entender o quanto o Outubro Rosa é importante, eu senti na pele quando perdi minha mãe há 17 anos”, disse a senadora. O ciclo de debates faz parte da campanha Outubro Rosa 2020: A Saúde a um Toque de Atenção.
Ansiedade e depressão
Médico psiquiatra, Joel Rennó Junior observou que o cancelamento de consultas está diretamente relacionado ao aumento dos níveis de ansiedade e de pensamentos negativos por conta da pandemia.
“Isso faz com que a percepção com o sucesso do tratamento seja alterada”, disse. “Pacientes com depressão tendem a não realizar consultas, aderem menos ao tratamento e estão mais suscetíveis a bebidas e a outras substâncias, como ansiolíticos, chamados de calmantes”, completou Rennó Júnior.
Segundo ele, é preciso garantir que os médicos da família deem a devida ênfase à avaliação do estado geral do paciente nos atendimentos. “Não podemos ficar focados na parte clínica do câncer. Pacientes com depressão têm uma sobrevida menor do que outros sem essa condição e com o mesmo diagnóstico”, ponderou.
Legislação
Mediadora do painel que analisou o papel do Poder Legislativo na causa oncológica, a deputada Silvia Cristina (PDT-RO) destacou a aprovação da Lei dos 30 dias, que assegura a todas as mulheres o direito ao diagnóstico precoce do câncer, em até 30 dias, e da Lei dos 60 dias, relacionada ao início do tratamento dentro desse prazo.
Ela ressaltou, no entanto, que é possível continuar avançando e sugeriu a aprovação, pela Câmara, do PL 6330/19, do Senado, que obriga os planos de saúde a oferecerem tratamento domiciliar de uso oral a pacientes com câncer tão logo o medicamento seja registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Isso nos ajudará, especialmente durante as epidemias, a assegurar o tratamento domiciliar, obviamente quando ele puder ser prescrito”, argumentou a parlamentar.
Alerta
Gabriel Johnson, representante da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama – entidade que reúne 70 ONGs distribuídas por 17 estados –, foi outro a destacar a importância do diagnóstico precoce e lembrou que, nesses casos, as chances de cura giram em torno de 95% .
“Devemos alertar todas as mulheres com três perguntas simples e que salvam vidas: ‘Você tem observado suas mamas? Já marcou seus exames anuais? Conhece seus fatores de risco?’”
Fonte: Agência Câmara de Notícias